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Relato de parto domiciliar da Karol Beduschi

relato de parto domiciliar da Karol Beduschi

Há algum tempo conheci a história da Karol, assisti alguns vídeos e li seus relatos de parto. Convidei ela para compartilhar o relato de parto domiciliar da Karol. Ela publicou em seu site e recomendo vocês acompanharem ela no Youtube. Muito divertida e sincera na sua maternidade simples e leve.

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Vamos ler o relato dela?

O relato de parto domiciliar da Karol

Cada parto é um parto, me disseram. Eu também tinha essa certeza, mas durante todo o tempo, imaginei que se aplicaria tão somente ao aspecto físico, não sabia muito bem como poderia ser diferente internamente. Eis aqui a minha experiência.

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Minha segunda gestação foi completamente diferente da primeira. Em tudo. Ambas foram gestações saudáveis, de baixo risco,  com muito sono no início, mas as similaridades terminam por aí. Eu brincava que a testosterona me deixava um tanto quanto maluca.

Emocionalmente falando, eu vivia uma montanha russa de altos e baixos drásticos, incontroláveis. Como chorei! Como me irritei! Como fiquei feliz! Quem acompanhou meus diários de gravidez no Youtube, ouviu em todos eles que o emocional era uma loucura.

Mas afinal, isso teria algo a ver com o parto? Sim, acho que o parto foi o ápice de todas essas emoções e todas as outras. Foi no parto que eu expressei intensamente tudo que se passou aqui dentro ao longo dos 9 meses.

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Minha “data prevista” era para o dia 29/09. Neste dia eu supostamente completaria 40 semanas de gestação. Qualquer pessoa que se informa um pouquinho sobre gestação e parto, vai aprender logo que data prevista é data prevista e que uma minoria de bebês coincidentemente nascem nessa data. Não é prazo de validade.

Eu sabia a data da concepção, então tinha uma boa noção de que essa data poderia se estender facilmente até outubro. O que eu não esperava, de forma alguma, é que meu trabalho de parto fosse começar um mês antes.

A escolha pelo parto domiciliar

Como assim? Trabalho de parto um mês antes? Sim, são os famosos pródromos, sinais fisiológicos que anunciam a iminência do trabalho de parto. Os meus deram o ar da graça com força a partir do dia primeiro de setembro, dia do aniversário da minha irmã e que eu entrava na 36a semana. Contrações ritmadas, com cólicas que me faziam crer que seria aquele o dia. Mas esta certeza se repetiu algumas vezes ao longo do mês, para a minha completa frustração.

A opção por um parto domiciliar se deu logo na primeira consulta com o nosso ginecologista. Se você leu nosso primeiro relato de parto, ele foi o médico anjo que me atendeu depois do nascimento da Ana Luiza, quando fui verificar a saída da placenta.

Depois daquele fatídico dia, todo um desdobramento aconteceu e através de pessoas em comum, como a minha amiga e doula Carol, mantivemos contato e ele foi a opção certa na hora de escolher um médico. Ele logo nos incentivou a um novo parto domiciliar, já que a primeira experiência tinha sido tão boa. Iríamos acompanhar a gestação e se tudo caminhasse dentro da normalidade, era a nossa primeira opção.

Apesar de não expor essa escolha na internet, as pessoas que conviviam conosco estavam todas cientes dela. Escolhi não expor, porque eu tinha medo. Medo de dar errado, medo de precisar de uma cirurgia, medo de alguma intercorrência e também porque eu me sentia no pleno direito de não falar.

Aliás, a coisa mais maluca que acontece é o fato de sentirmos todos os medos da primeira viagem novamente. Diversas vezes eu me questionava se conseguiria mesmo, se não desistira, se daria tudo certo.

Convivendo com os alarmes falsos de trabalho de parto

Um aspecto que trabalhei na minha mente todo o tempo era desconstruir o primeiro parto como referência. Algo muito difícil dada a experiência tão maravilhosa, mas possível. Acho que consegui fazer isto muito bem, exceto a parte aonde tinha por referência como se deu o início do trabalho de parto, os sintomas, o que eu sentia. Aliás, eu fiz um péssimo trabalho nesse sentido e me desvencilhar daquele norte foi doído e parece que só depois de fazê-lo é que tudo finalmente se encaminhou.

Além do referencial de “sintomas”, internamente eu precisei também me desapegar de mim mesma. Foram experiências tão distintas. No primeiro parto, eu diria que foi uma experiência intensa sim, transformadora, mas acho que hoje eu a enxergo como um primeiro amor, uma experiência romântica. Foi a realização de um sonho, viver aquela experiência de forma bela e plena, respeitosa e no conforto da minha casa.

Dessa vez, foi uma experiência tão intensa quanto, me entreguei da mesmíssima forma, mas foi internamente e externamente, mais selvagem. Foi avassalador e causou uma revolução interna! Me obrigou a amadurecer aspectos que são intrínsecos da minha personalidade?

  • como a minha teimosia em querer controlar todas as coisas,
  • minha mania de querer agradar a todos,
  • meu péssimo hábito de não querer de forma alguma incomodar a ninguém.

Tudo isso veio a tona ao longo do interminável mês de setembro, que eu poderia jurar ter tido 800 dias. E veio de forma dolorida demais. Latejava em cada novo alarme falso.

E eu tive pelo menos 5 alarmes falsos ao longo do mês. Em um deles a Carol, nossa doula até dormiu na minha casa. Em outro, na sexta-feira antes do parto, toda a equipe veio pra dentro da minha casa e tudo parou. Era frustrante demais.

Eu estava com tudo planejado, dessa vez estava tudo tão certinho, tão redondinho, eu tinha tudo tão organizado. Eu me questionava do por que eu não conseguia dizer se era alarme falso ou não, afinal eu já tinha vivido tudo aquilo!

A sensação de estar errada me enlouquecia, o fato de alarmar tantas pessoas e não dar em nada acabava comigo. Meu emocional que já andava capenga, me torturava. Meus pródromos esmagaram meu ego ao logo dos 40 dias que eles duraram. Todos os dias eu podia jurar que estava perto, que aquela era a hora e estive errada em todos eles.

No último alarme falso, da sexta-feira do dia 7 de outubro sentei com a Telemi e a Uiara, nossas parteiras, o Jó e a Carol e em uma conversa franca chegamos todos a mesmíssima conclusão: eu precisava parar de querer controlar tudo, era preciso desapegar.

Na verdade, depois de ser tida como louca e inconsequente eu achava que era hora de provar que não era bem assim, que eu tinha tudo sob controle desta vez. E me dei muito mal. Agradar a opinião alheia só me frustrou. E só consegui enxergar isto, incomodando, aos meus olhos, todas as pessoas que eu queria comigo, diversas vezes e estando errada em todas.

Foi então que naquela sexta-feira eu tomei a decisão de abrir mão de tudo isso. De vez. Por mim, pela minha sanidade mental e pelo meu parto. Apertei aquele famoso botão. Com força. E foi assim que se iniciou o meu trabalho de parto.

Passei o sábado, me recuperando do último alarme falso. Eu estava arrasada mas decidida a passar por cima dos meus achismos e relaxar, entregar.

O início do trabalho de parto 

Domingo, 9 de outubro, acordei convicta que faria tudo que me desse na telha, coisas que me traziam alegria e que as pessoas juravam desencadear o trabalho de parto. Naquele dia, minha mãe passou o dia com a Ana Luiza para que eu também pudesse estar com a minha amiga Tita, que veio de Joinville para o nascimento do Mathias.

Ela fez torta de limão, eu dancei uma playlist inteira de funk, tomei um longo e bom banho relaxante, namorei, caminhei na praia (contrações começaram), tomei açaí (contrações se intensificaram) e voltamos pra casa a pé com intervalos de DOIS MINUTOS. Sim!

Quando cheguei em casa, deitei e…elas pararam. Me recusava! Decidi que ia pra Vitória comer uma tapioca na feirinha e encontrar a Ju (que fotografou nosso primeiro parto). Comemos, rimos e as contrações continuavam enquanto eu me mexia. Não ia parar! Enquanto eu conseguisse eu iria andar, me movimentar…eu sentia que precisava disso. No fim da tapioca eu comecei a apressar o Jó, porque estava doloridinho.

Deixamos a Ju em casa e voltamos pra Vila Velha. Contrações e carro, só pra constar, não combinam. Pegamos a Ana Luiza na casa da minha mãe. Estava doendo. Os intervalos estavam em 4 minutos aproximadamente. O som no carro bem alto, ao som de Sia. Eu sabia que estava chegando a hora.

Chegamos em casa e eu fui pro banheiro. Diarreia. Quando eu ia sair do banheiro, minha bolsa rompeu. Meu Deus, que alegria! Queria abraçar o pouco de água que saiu.

Não podia parar.

O Jó colocou a Ana Luiza pra dormir, afinal não sabíamos o que nos esperava e eu fui andar. Andava de um lado pro outro na varanda, na sala. Andar me fazia bem, sentar estava fora de cogitação.

Mathias mexia muito.

Ele mexeu muito ao longo da gravidez e não parou um segundo durante o trabalho de parto. Nenhum mesmo. Todo mundo me botava medo dizendo que ele seria impossível, porque se mexia daquele tanto na barriga, imagina fora. Eu também não parava. Logo chegou a Carol, minha mãe, irmã e a Laíza que super topou fotografar o parto de última hora! Em seguida Telemi e Uiara.

Eu fiquei sozinha na sala e varanda um tempo. A Carol chegou e me ajudava durante as contrações com a melhor técnica do MUNDO! Fui pro meu quarto, liguei minha playlist que em ABSOLUTAMENTE nada se parecia com a que eu tinha feito pro parto da Ana Luiza. Quem ouve Sia em trabalho de parto? Hip Hop? Rap? Eu.

Mais uma ida ao banheiro e sangue. Telemi me examinou e constatou que ele já tinha descido um tanto e também tinha virado o dorso para o lado esquerdo (lado mais favorável para a descida – a cada consulta ele estava de um lado…).

Quando foi uma e tanto da madrugada, era aquela hora de entrar no chuveiro. Eu queria ter entrado direto na piscina que estava no meu quarto, cheia e quentinha, mas eu ficava com um pouco de receio de acordar a Ana Luiza.

Fiquei lá um tempinho e o Jó entrou avisando que a minha mãe e irmã tinham ido pra casa descansar para aguentar o tranco do pós parto imediato + Ana Luiza no dia seguinte e me disse que se eu quisesse ir pra piscina era pra fazê-lo sem medo de acordar a Ana Luiza porque a prioridade era o parto naquele momento.

As dores estavam intensas.

Entrei na piscina.

A água quente é minha melhor amiga durante o parto, mas eu demorei um pouco para encontrar uma posição confortável. As contrações seguiam seu ritmo. Intensas, mas eu achava que estavam muito espaçadas ainda. A Telemi me tranquilizou dizendo ser normal, e elas foram assim até o final.

Mathias não parava um segundo. A pior parte era sentir ele mexer durante a contração, aquilo me deixava maluca. Quando Telemi chegava para fazer a ausculta, já sabia que quando encostasse na barriga ele ia mexer. Dito e feito. Era agoniante.

Fase ativa do trabalho de parto

Comecei então a fase final de transição. Desta vez, tive a hora da covardia. Falei em alto e bom som que eu não sabia se ia conseguir. A Carol só me sorria e balançava a cabeça. Eu queria saber se já dava para ver a cabeça dele. Ela me sugeriu tocar e sentir por mim mesma. Me recusei.

Eu achava que estava perto de sentir o tal círculo de fogo que não senti com a Ana Luiza (eu achava que sim, mas descobri naquela noite, que não!). Mais algumas contrações intensas e comecei a sentir o tal, inesquecível. Eu sentia uma vontade absurda de gritar.

E gritei. Muito.

Urrei quando quis, com toda minha força e garganta. Era como se tudo que eu tinha vivido durante aqueles nove meses e principalmente ao longo do último, saísse a cada grito. Era grito de dor e libertação. Era a dor da contração, de trazer vida ao mundo, de entregar-se sem medidas, de doar-se por completo. Era a libertação de tudo que contive aqui dentro.

Libertação de mim mesma, de todo achismo, de toda opinião, de toda lágrima, de todo medo, de todo grito contido. Era um grito de convicção: Tudo a seu tempo. Eu consigo, sou capaz.

O nascimento do Mathias

O inesquecível círculo de fogo terminou com a saída da cabeça. Eu poderia ter feito toda a força descomunal do universo para empurrar tudo, mas aprendi com a primeira experiência, que eu precisava deixar o meu corpo fazê-lo e ser apenas a coadjuvante desse processo final, consciente, presente, entregue, tranquila, seguindo o curso natural.

Entre a contração da saída da cabeça e o corpo 1 minuto e 14 segundos. Na última contração senti seu corpinho saindo e o amparei, trazendo-o direto para o meu colo. Mexeu até a última contração e veio tranquilo, sereno, calmo, exatamente como ele é.

Com os meus gritos, Ana Luiza acordou. Entre uma contração e outra, a ouvi chamando por mim chorando. O Jó foi até o quarto dela, explicou que o Mathias estava chegando e ficou com ela até o final. A cada grito ela pedia pra que ele a abraçasse e cantasse pra ela. Quando o Mathias nasceu, ambos entraram no quarto e foi o momento mais emocionante do parto: o primeiro encontro entre irmãos.

O primeiro encontro dos irmãos

Passamos 9 meses gerando nela a expectativa da chegada, incluímos ela em todo o processo. Tínhamos planejado que ela não estivesse em casa durante o parto porque ela não lida muito bem me vendo chorar ou esboçando qualquer que seja a expressão de dor. Em todas a consultas e ultrassons ela deitava ao meu lado e segurava a minha mão até o final.

Eu sabia que não seria bom nem pra ela nem pra mim que ela assistisse, porque eu ficaria retraída e ela poderia ficar emocionalmente abalada, mas com tantos alarmes falsos, esperamos e acabou que ela estava em casa. Foi como deveria ser.

Nos últimos dias, montamos um bercinho pra ele no meu quarto e preparamos a primeira roupinha, manta, tudo que ele usaria ao nascer. Eu explicava pra ela tudo isso todos os dias ao ser questionada pelo menos umas 4x sobre a roupinha, a manta. “Mamãe, eu vou vestir o Mathias esse quando ele nascer” ela me dizia todas as vezes.

Quando chegou no quarto e se deparou comigo na piscina abraçada ao Mathias, ela foi tomada por uma emoção sem igual. Não sabia se chorava, se ria, ficou desnorteada e foi correndo pegar a roupinha dele enquanto dizia “meu bebê!!!”. Não teve quem não chorasse. Foi lindo, tranquilo, respeitoso, belo. Parto para nossa família, é isso. Em nada faríamos diferente.

A gratidão de ser mãe

Depois de tanta emoção, me ajudaram a sair da piscina e fui deitar na minha cama para ser examinada, para a saída da placenta (que desta vez veio rapidinho) e para esperarmos o cordão parar de pulsar para que o Jó fizesse o corte. Mathias veio com 3.790, 55 cm, apgar 10/10 e mamãe precisou levar zero pontos. Mamou logo após e pudemos ficar ali em família curtindo aqueles primeiros momentos intensos e cheios de ocitocina.

Trazer uma vida ao mundo é algo que produz uma dor sem igual, desde antes do parto. Quando se permite, a experiência de ser transformada é por demais intensa e profunda para se ater somente a algumas horas de dor física.

Mathias, foi concebido em um dia que eu orei logo cedo de manhã e pedi apenas para terminar aquele dia com o coração grato. Foi um dia que, humanamente falando deu TUDO errado. Era o meu 29O aniversário. Às 5 da tarde daquele 7 de janeiro, eu tive uma experiência que marcaria minha vida pra sempre, que me faria lembrar exatamente pelo que devo ser grata todos os dias. Ali mesmo na praça de alimentação de um shopping, com desconhecidos que possivelmente nem notaram a minha presença, mas que mudaram meu dia e me fizeram chorar ali mesmo. Responderam sem saber, minha oração.

Mathias significa dádiva de Deus e é isso mesmo que ele tem sido desde o primeiro dia de existência, dentro da minha barriga. No dia em que veio ao mundo, tudo era muito intenso aqui dentro, tão intenso que não saberia colocar em palavras. Me permiti apenas viver e me deixar transformar, novamente, pela força do nascimento.

Agradecimentos

Pai Eterno, obrigada! A dor que nos foi imposta, não se compara a alegria da chegada, da vida, da experiência. Sou, de todo meu coração, grata por ter vivido duas vezes esse privilégio de forma natural e plena, consciente e presente, crendo que todas as coisas estão debaixo do seu governo.

Sou eternamente grata aos que se dispuseram caminhar conosco nessa jornada.

Ao meu marido, amigo, companheiro…você é maravilhoso em tudo e essa jornada não poderia ter acontecido novamente sem o seu apoio, compreensão, ajuda, sem que você acreditasse e se entregasse junto. Te amo!

Aos nossos familiares, que respeitaram a nossa decisão independente de ser convencional ou não. À minha mãe, por toda disposição e infinita ajuda, à minha irmã que se dispôs a passar por cima dos próprios medos para estar presente e que nos serviu, à minha amiga Tita que mais uma vez veio no momento certo e nos ajudou com absolutamente tudo, incansavelmente. À Laíza, que topou fotografar um parto em casa de última hora e foi tão maravilhosa em tudo.

Aos profissionais que nos proporcionaram, mais uma vez, uma experiência maravilhosamente respeitosa: Carolina, Telemi, Uiara e Frederico. Que outras famílias possam ser abençoadas em tê-los como apoio, como equipe, profissionais, amigos. Muito obrigada! Eternamente, muito obrigada!

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Ana Luiza e Mathias. As duas vidas que mudaram e transformam diariamente quem eu sou. Amo vocês.

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